É comum para nós advogados, onde notei por outros, que uma forma de avaliar como avançamos na advocacia seria o período de três anos.
Isso acontece porque coincide com a renovação do nosso certificado digital. Assim olhamos como o tempo passou e até onde avançamos. Por isso vem a memória reflexiva minha.
Digo que esses três anos se passaram de forma rápida, e foi bem diferente do que eu imaginava e me deu vontade de contar um pouco da minha história.
De início vinha um jovem se graduando em Direito, com foco para concurso público. No final, saiu outro com vontade de arriscar mais na vida, empreender, ver como funcionava o mundo com a necessidade de um profissional formado em Direito dentro da área privada e entender ela melhor.
Acrescente-se ainda que no final da graduação veio uma inesperada pandemia, onde o mundo viveu uma situação indesejada. O que eu esperava era encontrar um emprego logo, o imediatismo me incomodou nessa fase, pois havia uma crise econômica no momento e o meu estágio estava se encerrando.
Eu precisava me sacudir para achar alguma vaga de emprego. Principalmente atuar na tão sonhada área de Direito Tributário. De repente me deparei com o que não havia planejado e cabe até um outro texto para descrever o que senti.
O tempo passava e via pessoas conseguindo emprego para área que eu desejava e nunca era a minha vez. Quanta agonia me deu. Como era difícil, estava com um “canudo” na mão que não trazia nenhuma renda ainda.
Senti que as minhas escolhas de estágio não foram boas, embora tivesse adorado tudo o que vivi. Mas parecia que meu período de estágio era perdido, um total fracasso porque não era contratado de jeito nenhum. Do que teria me valido então ter feito iniciação científica e monitoria na faculdade?
Me senti francamente um burro por só trabalhar em órgão público e não ter entrado em um escritório antes. Não entendia porque eu não poderia ser como os outros, que estavam sendo contratos e alguns indo até para São Paulo.
Parecia me restar o estudo desenfreado pela frente, por anos, para enfim passar em um cargo público. Refleti sobre o que fazer, mas tomada de decisão além de ser difícil, não permite ficar mudando de escolha todo ano. Caso contrário, não haveria resultado algum para nada.
Resolvi então abrir o meu escritório com muita coragem, e não saberei dizer se foi a mais correta, só que chego aqui sem arrependimentos.
Porque não nego ter tido pensamentos como seria a vida se tivesse esperado mais, encontrado uma vaga de emprego na área tributária, ou só estudado para concurso. É a sensação de achar que a grama do vizinho é mais verde.
Mas aprendi que qualquer caminho a seguir ele iria ser difícil do mesmo jeito. Percebi que tudo começa dessa forma, não existe um mundo nos devendo favores para entregar uma vaga de emprego, um cargo público, ou abrir um escritório e no primeiro dia vai bater um cliente na sua porta (para mim levou 03 meses).
O caminho inicial é duro, como se fosse um teste da vida se vai seguir mesmo nesse caminho. Eu posso dizer aqui que eu resisti (com muitas pancadas rs). O aprendizado principal nessa etapa é que se estiver fácil desconfie. Não existe ganhos rápidos ou vitórias fáceis.
Encarei as consequências, me comprometi a pegar todo aprendizado que poderia ser adquirido. Sabia que deveria ser firme na escolha e não deveria recuar. Seriam e foram anos amargos.
Encarei e até hoje sinto as dificuldades, mesmo vendo tracionar em uma direção e contando com boas parcerias.
Muitas vezes pensei em fechar as portas e tentar buscar trabalhar em outro lugar, dias que me senti perdido. Desejei estar igual a alguns amigos, trabalhando em uma boa empresa ou escritório, ou mesmo igual aos que estão indo bem nos concursos (uma fase de estudos demorada), era o sinal de estar bem sucedido que eles me transmitem e que buscava atingir. A minha escolha parecia a pior, uma pessoa perdida que está sem rumo.
Depois algumas oportunidades surgiram, mas sentia que havia algo melhor por vir no caminho que eu escolhi.
Pois bem, o tempo passou e resisti aos três anos mencionado no início. Mesmo com a sensação de ter feito algo de maneira prematura.
Só que me parecia ter o destino de minha vida me fazer seguir isso, uma soma do desespero para trabalhar e um sonho a realizar. Sem a vaidade de ter o meu nome no escritório estampado em uma placa, quero apenas ser um grande advogado (e estou bem longe disso).
Embora tenha sido difícil, não sinto que fiz um mal trabalho até hoje. Na verdade, abrir um escritório fez com que fosse obrigado a lidar com os problemas jurídicos vividos pelos outros na prática e de frente com eles, porque era eu que entrava em contato diretamente.
Mas este é o resumo da advocacia minha até aqui, um tanto desafiadora como ela sempre será. Mesmo cheia de dificuldades, me sinto realizado com o trabalho feito.
Embora muita coisa para nós não acontece da forma que sonhamos, devemos extrair o melhor disso e agradecer. Sempre haverá muitos obstáculos no trajeto, aliado a dificuldade.
Que o sentimento de medo, derrota ou insegurança não tome conta de nós e nem faça perder a coragem realizarmos os nossos sonhos.